Mulheres que Lutam: Conheça Vanessa, Mãe solo que transforma desafios em sonhos

Em Araraquara, cidade do interior paulista onde o sol forte parece testemunhar todas as batalhas, Vanessa, 38 anos, acorda todos os dias antes das 5h. A rotina é pesada, mas ela não reclama: “Tenho orgulho de ser mãe, mesmo quando a vida aperta”, diz, enquanto prepara o café para seis filhos que ainda dormem. “A gente se vira como pode. Não tem rede de apoio, não tem família por perto. É eu, minhas forças e Deus.”  

Vanessa mora em uma casa simples, emprestada pela ex-sogra. O lugar é pequeno para tanta gente, mas ela faz questão de manter tudo limpo e organizado. “Não é minha casa, mas enquanto não posso ter a minha, cuido como se fosse. Um dia vou conquistar”, afirma, enquanto varre o quintal. Seu sonho é ter um lar próprio, com espaço para as crianças brincarem. “Quero um quintal onde meus filhos possam correr sem medo. Algo que seja nosso.”  

O maior desafio, além da falta de espaço, é a saúde. Vanessa espera há meses por um exame de ultrassom vaginal. “Marquei em 2024 e até agora nada. Enquanto isso, sigo com dor, sem saber o que tenho.” Ela conta que o posto de saúde do bairro vive lotado e que muitos remédios básicos faltam. “Às vezes, tenho que escolher entre comprar um analgésico ou um quilo de arroz.” A segurança também a preocupa: “Vejo jovens daqui indo para caminhos errados. Oro todo dia para meus filhos não seguirem isso”.  

Para sustentar a família, Vanessa trabalha na Cooperativa Acácia, separando materiais recicláveis. O salário é R$ 900 por mês. “É pouco, mas paga as contas. O medo de perder o emprego me assombra”, confessa. Ela explica que, em empregos formais, já foi demitida por precisar faltar quando os filhos adoecem. “Na cooperativa, entendem que mãe solo não falta por vontade. Mas mesmo assim, se eu ficar doente, não tenho direito a nada.”  

Seus dias são uma maratona: de manhã, leva as crianças para a escola e a creche. À tarde, trabalha. À noite, ajuda nas tarefas escolares. “A de 14 anos quer ser médica. Ensino a ela que estudo é a saída”, diz, mostrando orgulhosa os cadernos da filha, cheios de anotações. O cansaço é visível, mas Vanessa sorri: “Quando vejo eles dormindo, penso: ‘Consegui mais um dia’”.  

Seus sonhos são simples, mas parecem distantes. Além da casa própria, quer fazer um curso de segurança do trabalho. “Se eu me formar, posso arrumar um emprego melhor. Mostrar aos meus filhos que nunca é tarde para crescer.” Enquanto isso, economiza moedas em um pote de plástico. “Tudo que sobra vai para o ‘fundo da casa’. Mas sobra pouco…”, admite, rindo sem graça.  

Para outras mães solo, Vanessa manda um recado direto: “Não desistam. Por mais que a gente chore escondido, nossos filhos são nossa força. Um dia eles vão entender o sacrifício.” Ela também critica a falta de apoio do poder público: “Precisamos de postos de saúde que funcionem, creches de verdade e empregos que respeitem quem é mãe. Enquanto isso não vem, a gente segue na luta”.  

Às vésperas de completar 39 anos, Vanessa não faz planos de festa. “Meu presente é ver meus filhos saudáveis”, diz. Sua história não é sobre derrotas, mas sobre pequenas vitórias: o arroz que dura o mês, a conta de luz paga, o sorriso de uma criança após um dia difícil.  

Em Araraquara, como em tantas cidades do Brasil, Vanessa representa milhares de mulheres que carregam o mundo nas costas sem ajuda. Sua luta não é heroísmo — é necessidade. E sua voz, ecoando entre sacos de recicláveis e noites sem dormir, lembra que, enquanto houver amor e um pingo de esperança, a periferia não para de sonhar.  

>> Esta matéria integra a série “Mulheres que Lutam”, do Site Na Base, que dá voz a histórias reais de resistência nas periferias do Brasil.

Da Redação

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