José Carlos: Do Del Rey para o Mundo — O Atleta Que Transformou Limitações em vitória  

Na zona sul de Araraquara, entre ruas que misturam sorrisos e desafios, mora um jovem que carrega no salto, no dardo e nas passadas a força de quem sabe que sonhos não têm fronteiras. José Carlos de Melo Farias, 17 anos, recordista nacional Sub-20 no salto em distância e orgulho do bairro Del Rey, não enxerga o mundo como a maioria — e é justamente essa diferença que o faz voar mais longe.  

Nascido em Pernambuco, José chegou a Araraquara ainda criança, trazido pela família em busca de oportunidades que o sertão nordestino não oferecia. Hoje, morador do Del Rey, ele transformou a quadra do bairro, os ônibus apertados e os treinos sob sol forte em cenários de uma história que já cruzou o país: em 2023, conquistou o ouro nas Paralimpíadas Escolares, quebrou recordes e provou que, mesmo com uma doença degenerativa (Stargardt, que reduz sua visão), é possível enxergar futuros brilhantes.  

Da Escola para o Pódio: O Convite Que Mudou Tudo. A virada na vida de José começou com uma visita inesperada. “Foi a Estela [técnica] que me achou na escola e me convidou para o atletismo paralímpico. Eu nem sabia que existia”, conta ele, rindo da própria surpresa. Na época, o garoto tímido, que confessa ter sofrido com baixa autoestima, mal imaginava que saltaria 6,20 metros (marca que o colocou no topo do Brasil na categoria Sub-20) ou que lançaria um dardo como quem joga sementes de inspiração.  

Hoje, ele compete na classe F13 (saltos e arremessos) e T13 (corridas), representando a Fundesport — instituição que bancou todas as suas viagens para competições, do transporte à alimentação. Mas o caminho até aqui não teve uma linha de chegada fácil.  

“Acordo cedo, vou pra escola, volto, almoço e saio correndo pro treino. Chego em casa tarde, cansado, mas é o sacrifício que a gente faz”, descreve José, que divide a vida entre os estudos e as pistas. O cansaço, porém, é só detalhe. O maior desafio? Treinar em uma cidade que, segundo ele, “ainda não pensa nas pessoas com deficiência”.  

“Aqui tem estrutura, mas falta adaptação. Nada é feito pra gente”, critica o atleta, lembrando que até mesmo os equipamentos básicos para treinos específicos são raros. Mesmo assim, ele dribla as limitações com uma rede de apoio que inclui técnicos dedicados, a Associação Para Vê (que dá suporte a atletas com deficiência) e a família, que, mesmo sem entender muito de esporte, “sempre empurra [ele] pra frente”.  

José não esconde: já ouviu frases capacitistas — aquelas que subestimam pessoas com deficiência —, mas aprendeu a “colocar a cabeça no lugar” e seguir em frente. “Nunca sofri preconceito direto, mas tem gente que não entende. O esporte me ensinou a me valorizar”, reflete.  

Foi nas pistas que ele encontrou não apenas medalhas, mas algo maior: identidade. “Conheci pessoas com deficiências iguais às minhas. Isso foi um tapa na cara. Eu reclamava da minha situação, mas vi gente em condições muito piores. Mudou minha visão de vida”, diz ele, que hoje usa o esporte como ferramenta para elevar a autoestima — antes baixa, hoje transformada em confiança.  

Enquanto treina para os 100 metros, o salto e o dardo, José já mira o próximo passo: as Paralimpíadas. “É o ápice do ápice. Quero um dia estar lá, representando o Del Rey e o Brasil”, afirma, sem disfarçar a ambição. Mas o jovem, que também sonha em cursar educação física ou fisioterapia, sabe que o legado vai além das pistas.  

“Meu maior sonho é ver minha mãe e meus irmãos bem. Quero mostrar pra eles — e pra toda a quebrada — que dá pra sair do pouco e chegar longe”, diz José, cuja trajetória já virou combustível para outros jovens da periferia. “Se eu inspiro alguém, já é uma vitória.”  

Para José, “Mentalidade Forte Acaba Com Capacitismo”. No final da conversa, José deixa um recado para a galera do Del Rey e de outras periferias que, como ele, enfrentam obstáculos dentro e fora do esporte: “Nunca desista do seu sonho. Não deixe ninguém te colocar pra baixo com pensamento negativo. O caminho não é fácil, mas a gente tem que correr atrás — literalmente”, brinca, antes de finalizar com seriedade.  

“Às vezes a gente acha que não é capaz, mas eu tô aqui pra provar que a quebrada é foda. E se eu consegui, todo mundo consegue.”  

José Carlos segue treinando em Araraquara, como ele mesmo diz, “o pódio é só detalhe”. O que importa mesmo é a trilha que ele está abrindo — uma que, em breve, pode levar não só ele, mas toda uma geração de jovens, para lugares onde o mundo todo vai enxergar suas vitórias. 

Acompanhe a trajetória de José e de outros atletas das quebradas de Araraquara aqui, Todos os gastos das viagens do José são proporcionados pela Fundesport, alimentação, hospedagem e transporte. 

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Da Redação

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